Médias móveis: conheça este indicador e saiba como usar no day trade

Pontos-chave:
  • A média móvel é calculada sobre o fechamento dos candles e a cada novo período calcula-se uma nova média, excluindo do cálculo o valor mais antigo e incluindo o valor mais recente.
  • As médias móveis são definidas pela quantidade de períodos incluídos no cálculo. Normalmente usa-se uma quantidade de períodos menor em conjunto com outra de maior quantidade de períodos.
  • Quando a média curta passa para cima da média longa pode significar uma tendência de alta e de baixa quando o contrário ocorre.
Índice

Se você conhece um pouco de análise técnica, sabe que muitos investidores usam as médias móveis em suas estratégias de investimento para day trade, tanto para acompanhar o pregão e fazer operações manuais, como para operar de forma automatizada com robôs (algotrading).

O indicador Cruzamento de Médias Móveis está entre os mais simples que um investidor grafista pode utilizar e provavelmente é o primeiro que ele aprenderá em seus estudos. Justamente por isso, preparamos um post completo sobre o assunto, para explicar o que é, como funcionam e como usar as médias móveis para day trade.

O que são médias móveis?

Candle de Alta
Candle de Alta

Antes de começar: falar de médias móveis só faz sentido quando analisamos dados ordenados. Trabalhando com ações, naturalmente organizamos os dados em candles, cada um contendo as informações de abertura, fechamento, máxima e mínima de um período. Os candles são traçados de acordo com uma periodicidade definida, podendo cada um representar os negócios de um dia inteiro ou de frações como 5, 10 ou 30 minutos. Finalmente, os candles são desenhados em ordem cronológica: os mais antigos a esquerda e os mais novos a direita, considerando o eixo X do gráfico.

Candle de Baixa
Candle de Baixa

Nós investidores normalmente usamos a média calculada sobre o fechamento dos candles. A cada novo período calcula-se uma nova média, excluindo do cálculo o valor mais antigo e incluindo o valor mais recente. É comum traçar retas ligando os pontos plotados para facilitar a leitura do gráfico, assim a média torna-se uma linha de tendência. Uma média móvel é simplesmente o cálculo da média dos últimos N valores de uma série de números. Calcula-se o valor da média móvel a partir do enésimo (Nº) número da série, já que antes não haviam N valores disponíveis para cálculo da média.

Para exemplificar, imaginemos uma série de 20 números com crescimento incremental, o primeiro tem o valor de 100, o segundo de 105 (aumenta cinco), o 3º vale 115 (aumenta dez), o 4º vale 130 (aumenta quinze) e assim seguem até o 20º número, com valor 1.050:

Gráfico Exemplo Cálculo Média Móvel
Gráfico de Exemplo de Cálculo de Média Móvel

No gráfico acima podemos ver os dados (gráfico de barras), o valor das médias calculadas (pontos azuis) e a linha de tendência (linha verde), traçada ligando os pontos azuis. Destacamos o cálculo da média no 10º e no 20º número:

  • Média Móvel de 10 períodos no 10º valor:
    ( 100 + 105 + 115 + 130 + 150 +175 + 205 + 240 + 280 + 325 ) / 10 = 182,5
  • Média Móvel de 10 períodos no 20º valor:
    ( 375 + 430 + 490 + 555 + 625 + 700 + 780 + 865 + 955 + 1.050 ) / 10 = 682,5

Para que servem as médias móveis?

As médias móveis são usadas há anos pela estatística para suavizar valores em séries temporais, filtrando ruído provocado por flutuações de curto prazo e destacando tendências ou ciclos de longo prazo. O gráfico abaixo mostra como uma média móvel consegue suavizar uma série histórica:

Atenção: médias móveis são calculadas com dados históricos (do passado) e foram criadas para a interpretação deles. O valor da média em um determinado momento e a inclinação da linha de tendência (feita ligando os pontos das médias) não advinham o comportamento futuro (dos próximos dados) em uma série.

Médias móveis em ações

A maioria dos investidores grafistas usa constantemente as médias móveis. O mais comum é o uso do valor de fechamento de cada período para o cálculo da média, porém não existe regra ou limite para quanto, quando e como as usamos. Traçar uma única média junto a um gráfico de cotações permite uma visão mais limpa do preço do ativo e de sua tendência. Para análises de prazos mais longos a curva da média chega a ser mais útil que os candles, por permitir uma visão simplificada da tendência do ativo.

Além da ajuda na interpretação dos gráficos, as médias, devido à sua simplicidade, são muito usadas na criação de estratégias de investimento. Podemos dizer que uma estratégia de investimento é um conjunto de regras objetivas definindo quando comprar ou vender um ativo (ação, contrato, etc.). O conceito de médias móveis está presente na maioria das estratégias de investimento, nem que seja apenas parcialmente, que é o que abordaremos a seguir.

Estratégias de investimento baseadas em médias móveis

Uma estratégia (ou setuptrading system, sinal, etc.) que usa médias móveis quase nunca fica restrita apenas ao uso apenas delas. Outros indicadores, stops, gestão de risco, complementam a lógica que define os momentos de entrada e saída do mercado. Porém, neste artigo explicaremos as estratégias que usam apenas este indicador. Também, para facilitar a explicação, falaremos de estratégias que operam apenas compradas. Todas estratégias podem ser adaptadas para operarem também (ou apenas) vendidas e combinadas com stops e outros indicadores.

Teste uma estratégia com as médias móveis clicando aqui.

Estratégia: Cruzamento de duas médias móveis (2MMs)

Esta estratégia utiliza duas médias de prazos diferentes (uma de 21 períodos e outra de 7 períodos, por exemplo). O investidor considera que a média mais curta (a de 7 períodos no exemplo) representa a tendência do ativo no curto prazo, enquanto a média mais longa (no exemplo a de 21 períodos) representa a tendência do ativo no longo prazo.

Sinal de entrada

Compra-se quando a média curta passa para cima da média longa. Interpreta-se esse “cruzamento” (a linha de uma média passando pra cima da linha da outra) como uma tendência de alta no preço do ativo, pois a tendência de curto prazo (representada pelo valor da média curta) passou a ser maior do que a tendência de longo prazo (representada pelo valor da média longa).

Sinal de saída

Nesta estratégia pura de duas médias móveis (pura porque usa apenas as médias, sem stops e outros fatores) a eliminação se dá através da venda quando a média curta voltar para baixo da média longa.

Exemplo no mercado

Traçamos duas médias móveis simples em um gráfico de WINM15 (mini contrato de índice Bovespa futuro que venceu em junho de 2015) com periodicidade de 10 minutos:

  • Média móvel simples do fechamento de 7 períodos em amarelo;
  • Média móvel simples do fechamento de 21 períodos em azul;
  • Pontos de cruzamento das médias: pontos laranjas.

Olhando apenas o gráfico acima temos a impressão de que os pontos de cruzamento das médias podem ser bons indicadores de momento de compra e venda. Podemos até achar que, no período do gráfico acima, um trade de uma estratégia baseada no cruzamento dessas médias teria sido lucrativo. Claramente o cruzamento (o que indica uma compra) aconteceu em valor menor (mais baixo) que o descruzamento (que indicaria a venda ou eliminação).

Porém, avaliar corretamente uma estratégia apenas pelo gráfico de seus indicadores exige experiência para não cair nas armadilhas do mercado. Na estratégia que estamos analisando o investidor precisa saber que o valor das médias só é definido após o fechamento do candle. Com o pregão funcionando (mercado em andamento) o candle em aberto (do período atual) vai mudando de forma até seu fechamento (quando inicia-se a formação do próximo candle), o mesmo acontece com o preço das médias e, consequentemente, com o sinal de compra ou venda. É preciso esperar o fechamento de um candle para validar se realmente ocorreu um cruzamento.

Podemos falar então que um posicionamento correto nesta estratégia se daria na abertura do candle seguinte ao candle que definiu o cruzamento ou descruzamento da média. Vamos ver como seria o trade desta estratégia no gráfico acima com a inclusão de:

  • Ponto de entrada (compra): seta rosa
  • Ponto de saída (venda): seta azul.
  • Resultado da operação (e tempo posicionado): linha cinza.

Percebemos então que um trade baseado nesta estratégia teria dado prejuízo no cenário do gráfico acima, mesmo dando impressão do contrário quando olhamos apenas os candles e as médias traçadas. Essa demora/distância entre o preço de cruzamento e o preço do trade se dá pela forma como o gráfico é traçado: nele vemos o cruzamento entre o candle anterior e o atual , porém só operamos após a confirmação do cruzamento, na abertura do candle seguinte. Assim a distância entre o ponto de operação e o de cruzamento é de mais de um candle inteiro!

Estratégia: Cruzamento média móvel e preço (1MM)

Esta estratégia é uma simplificação da estratégia anterior, porque utiliza de apenas uma média móvel (que seria a média longa) e o preço do ativo, que entra no lugar da média curta. A compra se dá quando o preço passa para cima da média e a eliminação quando o preço voltar para baixo dessa média.

Uma vantagem desta estratégia em comparação com a anterior é a redução da distância entre o valor de cruzamento das médias e o ponto real de compra e venda. Uma desvantagem é lidar com mais ruído do mercado ao trabalhar com o preço puro, que pode ter variações grandes no curto prazo que muitas vezes não refletem a real tendência de uma ação.

Tipos de médias móveis

Até agora falamos apenas sobre a média móvel simples, porém existem vários outros tipos de médias móveis. Cada tipo possui uma fórmula diferente para seu cálculo. Seguem abaixo os tipos mais usados no investimento em ações:

  • Média móvel simples ( MMS / SMA ): é a média aritmética comum, onde cada elemento possuí o mesmo peso.
    fórmula: MMS = [soma dos últimos N valores] / N
  • Média móvel exponencial ( MME / EMA ): coloca peso maior nos dados mais recentes. Reage mais rapidamente a modificações na tendência de um ativo, mas também tem mais chance de dar sinais falsos.
    fórmula: MME = [ Valor Atual – Média Anterior ] x [ 2 / ( 1 + Número de Períodos ) ] + Média Anterior

O período da média / Efeito Lag

Mais importante que o tipo de média é o número de períodos utilizado ao se calcular uma média móvel, já que esse número tem um efeito mais significativo na linha de tendência resultante. Médias mais curtas (de poucos períodos) acompanham os preços bem de perto e mudam de sentido rapidamente. Médias mais longas (de mais períodos) precisam de um movimento de preços maior e mais longo para mudarem de direção.

Para exemplificar, segue um gráfico de um período interessante. Nele vemos o Índice Bovespa (IBOV) no ano de 2008 de janeiro a setembro, período em que a bolsa encerrou uma longa tendência de alta e em que estourou a crise mundial de créditos imobiliários. Nele temos:

  • Média simples de 20 períodos em laranja;
  • Média simples de 50 períodos em verde;
  • Média simples de 100 períodos em azul claro.
Gráfico Médias Móveis 3 períodos
Gráfico diário Índice Bovespa (IBOV) na crise de 2008: diferentes períodos de médias móveis

Neste gráfico podemos perceber quanto tempo cada média demorou para mudar de tendência (a reta da média passar a apontar para baixo) após a máxima histórica de 73.920 pontos em 29 de abril. Percebemos também que as médias de 50 e 100 períodos (linhas verde e azul) mudaram de direção em dias muito próximos, isto se deve a grande oscilação (queda brusca) que aconteceu nestes dias.

Chamamos de efeito lag esta características das médias móveis de demorarem para mudar de direção. O tipo da média também pode ser considerado um contribuinte para o efeito lag. A sugestão para se ter uma noção do efeito lag em qualquer ativo é fazer diversas simulações em diferentes cenários sempre.

Atenção: ao construir uma estratégia baseada em médias móveis, o lag nem sempre é indesejável. Médias muito curtas podem gerar muitas falsas entradas e perda de dinheiro com stops de perda e taxas operacionais. Da mesma forma, médias muito longas podem perder oportunidades ou indicarem entrada quando o movimento nos preços já está acabando ou está até mesmo encerrado e revertendo.

Nomenclatura

Entre tantas siglas, abreviaturas e termos em português e em inglês é fácil ficar confuso. Organizamos os termos mais comuns do assunto na tabela abaixo para que não restem dúvidas:

Não existe segredo, usamos siglas em português ou em inglês para identificar o tipo da média e números, antes ou depois da sigla, identificando o número de períodos da média. As médias móveis são utilizadas em diversos sistemas e relatórios, em diversos idiomas e não existe uma única forma de uso dos termos, cabe a nós interessados conhecermos as diferentes nomenclaturas possíveis.

Outras formas de uso das médias móveis

Existem infinitas formas de se usar as médias móveis investindo em ações. No dia a dia de trabalho dentro da SmarttBot há estratégias de investimento das mais diversas e a maioria delas usa de alguma forma médias móveis.

Eis alguns exemplos e ideias diversas de uso das médias móveis, além das estratégias já explicadas anteriormente:

Traçar a média móvel de outros dados e não apenas do fechamento do candle: Média móvel do volume servindo como filtro de entrada (só entra se o volume estiver acima da média) ou ponderar a média móvel do fechamento pelo volume do período.

Calcular a tendência como novo indicador: A tendência é a inclinação (derivada) da curva da média. Se maior que zero a tendência é de alta. Como seu valor varia dentro de um intervalo fixo ele pode ser utilizado em uma estratégia de forma semelhante ao IFR (Índice de Força Relativa): compra-se quando maior que um limite superior (exemplo 0,5) e vende-se abaixo (exemplo -0,5).

Usar a posição de um outro ativo em relação a uma única média como filtro de entrada: só operar uma estratégia de PETR4 quando o IBOV estiver acima da própria média de 9 períodos.

  1. Deslocar a média móvel, plotando no período atual a média do período anterior.
    • Um indicador bastante utilizado, o HiLo (High Low Activator ou HiLo Activator), é basicamente duas médias traçadas: das máximas e das mínimas, alternando qual média é traçada quando há um cruzamento da média deslocada em um período (para a direita) com o fechamento do candle.

No gráfico acima temos as “escadinhas” acima e abaixo dos candles, que são a forma mais comum de se traçar o indicador HiLo. Essas escadas são exatamente as médias das mínimas e das máximas.

Uma estratégia de HiLo opera quando uma escada para de ser desenhada e começa a ser desenhada a outra, obedecendo o sentido da escada: opera-se vendido com a escada acima dos candles e comprado com ela abaixo. O HiLo também é comumente usado como regra de saída para estratégias que possuem entradas diversas. Nesse caso, ele funciona como um stop móvel.

Curiosidade do mercado: Estratégia XP Investimentos

A corretora XP Investimentos nasceu como um escritório de agentes autônomos de investimento (AAIs, corretores de ações) e ao mesmo tempo uma empresa de educação. Na época, em suas palestras e cursos sempre divulgavam uma estratégia que o mercado apelidou de Estratégia XP Investimentos.

Esta estratégia tratava-se do cruzamento de duas médias móveis, uma exponencial de 9 períodos (MME9) e uma simples de 40 períodos (MM40). Eram apresentados relatórios de backtesting (simulação de desempenho teórico da estratégia no passado, feita com cotações históricas) mostrando a performance dessa estratégia vencendo o benchmark Buy & Hold (comprar o ativo no início do período e vender ao final), durante a alta de 2002 até o momento (pré crise de 2008).

Essa estratégia vencia o benchmark e funcionava bem para muitos ativos e tempos gráficos naquele momento onde a tendência de longo prazo de alta era bastante clara. A história dela também é interessante porque foi a primeira estratégia aprendida por muitos dos investidores que entraram no mercado naquela época de IPOs e grandes altas e foram a cursos ou palestras em corretoras na época.

Investimento automatizado com médias móveis

Na SmarttBot, nossa plataforma para negociação automatizada, disponibilizamos robôs que permitem a combinação das médias com:

  • Operações nos 3 sentidos (comprado, vendido e ambos);
  • Qualquer ativo e volume na BM&F ou Bovespa;
  • 5 tipos de stop:
    • fixo de ganho;
    • fixo de perda;
    • móvel;
    • diário de ganho;
    • diário de perda.
  • Opção de fazer apenas day-trades ou posições;
  • Limite de horário inicial e final para operações;
  • Configuração dos custos operacionais: taxas da bolsa e corretagem.

Dica: para configurar uma estratégia que opere no cruzamento do preço com uma média apenas configure uma de suas médias como simples de 1 período.

A SmarttBot permite testar diferentes combinações de parâmetros, ativos e tempos gráficos facilmente. Isso tudo no plano gratuito, os planos pagos são necessário apenas para negociação com dinheiro real.

O vídeo abaixo explica o passo a passo para configurar um robô médias móveis em sua conta SmarttBot:

A SmarttBot disponibiliza a estratégia Tangram, que permite a configuração de todos elementos listados acima com a possibilidade de combinar para entrada e saída 5 indicadores:

  1. 2MM (médias móveis)
  2. HiLo Activator
  3. IFR (Índice de Força Relativa)
  4. Bandas de Bollinger
  5. MACD

Com o robô Tangram Plus é fácil combinar médias com outros indicadores e regras específicas como operar apenas em determinados horários do pregão.

Médias móveis no seu investimento

Médias móveis estão entre os elementos mais básicos na construção de estratégias de investimento. Além de formarem estratégias por si só (cruzamento 2MMs e cruzamento MM x preço), são utilizadas na construção de outros indicadores/estratégias (HiLo, MACD, etc.) e muito úteis na visualização e interpretação de gráficos.

Devido à quantidade enorme de combinações de médias, tempos gráficos, ativos e formas de uso, se simular aleatoriamente estratégias no passado encontrará setups lucrativos com alguma facilidade. Porém estes resultados são provavelmente falso positivos (outliers que “deram sorte”) naquele exato contexto e que nada garante que se darão bem no futuro. O principal problema dos backtestings tradicionais é esse, o mercado em que foi feita a simulação com certeza é diferente do que em se pretende operar.

Não se deve abandonar as médias móveis em suas estratégias, mas é importante conhecer as limitações deste indicador. Há vários robôs traders lucrativos e pelo menos 90% deles usa alguma forma de média móvel, porém quase nenhum deles usa-as na forma clássica.